domingo, 28 de dezembro de 2008

A Fada

Ela é uma verdadeira mulher.


E tem montes de graça. Acho que, quando a conheci, não me era nada. Era mais uma pessoa, num lugar com desconhecidos. Eu era uma ervinha e ela era o trevo. E tinha quatro folhas, mas eu não reparei logo.

Uma vez, apercebi-me que ela tinha começado a fazer parte de mim. Adorava o seu dentinho, era mesmo engraçado. E adorava a sua maneira de se expressar. Os seus olhos abriam-se para mim, assim como o seu coração. No entanto, ela era tão frágil.


Ela não queria saber, estava a lixar-se para tudo (pensava eu), mas dava muito valor à amizade. Por outro lado, a distência mantinha-se, com uma certa cordialidade em toda a nossa potencial relação de amizade.

Ela era uma borboletinha, por quem eu me fui deixando levar, com o passar dos dias. As suas cores eram radiantes, brilhavam quando o sol incidia nelas. As suas asas tinham uma forma peculiar de bater, e ela planava ao vento. Tinha uma antenas sensíveis a qualquer gesto, toque, palavra ou brisa de rudeza. Mas ela era especial e só três ou quatro pessoas se tinham apercebido de que ela existia.


Se eu pudesse, arrumava-a num potezinho, deitava-lhe por cima os meus pós mágicos de fadinha e ela andava sempre comigo. Mas não, ela não vive sem nós, mas preza muito a sua independência.

E eu sabia que lhe podia ligar a qualquer altura. Porque as borboletas e as fadas nunca dormem. Quero dizer, eu sei que ela dormia comigo. Como sabem, as fadas têm muitos poderes, mas o que a caracterizava era a sua falta de auto-estima, a sua falta de si.


Ela era tão cheia dos outros e tão vazia de si.


Houve, uma vez, um velho gnomo que me contou que tinha sido por isso que a borboleta se tinha transformado em fada. Não se tinha transformado da mesma maneira que as outras. (as outras eram fadas por terem alcançado a perfeição). Ela tinha-se transformado em fada porque o Conselho Fadal, há muitos anos, tinha decidido que a próxima borboleta que fizesse um anjo olhar para ela e segui-la, seria a próxima Raínha das Fadas.

E eu perguntei, é claro, "porque é que tem de ser um anjo?" e ele respondeu-me exactamente assim:

"- As borboletas são frágeis, mas têm muita força interior. Só precisam de um anjo para as proteger dos perigos. Para além do mais, os amigos são anjos que nos levantam quando as nossas asas se esquecem de voar."

E aí, uma luz amarela incidiu sobre mim, os meus pés levitaram, ceguei por momentos.


E quando toda aquela paz passou, eu era um anjo, de mãos dadas com a minha borboleta.



[ Para ti, minha amiga, para que nunca te esqueças que eu vou ser o teu anjo e tu serás sempre a borboleta mais linda. Porque os maus momentos vêm e vão. Mas os anjos permanecem na luz. Quando quiseres, abraçar-te-ei e lever-te-ei nos meus braços, em direcção ao arco-íris. Enquanto isso não acontece, falaremos até que o teu corpinho frágil já não tenha forças e adormeça no meu regaço, longe das complicações da vida.]

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